A nossa biblioteca festejou o 41º aniversário
do 25 de abril com muita poesia.
Os alunos do 5º A fizeram poemas alusivos à
data que foram expostos no bar da escola e, nas portas das salas de aula, foram
colocados poemas de vários autores portugueses.
Deixamos aqui alguns textos poéticos da nossa
literatura para assinalar esta importante data histórica.
25 de abril
Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo
Sophia
de Mello Breyner Andresen
A Rapariga do País de Abril
Habito o sol dentro de ti
descubro a terra aprendo o mar
rio acima rio abaixo vou remando
por esse Tejo aberto no teu corpo.
E sou metade camponês metade marinheiro
apascento meus sonhos iço as velas
sobre o teu corpo que de certo modo
é um país marítimo com árvores no meio.
Tu és meu vinho. Tu és meu pão.
Guitarra e fruta. Melodia.
A mesma melodia destas noites
enlouquecidas pela brisa no País de Abril.
E eu procurava-te nas pontes da tristeza
cantava adivinhando-te cantava
quando o País de Abril se vestia de ti
e eu perguntava atónito quem eras.
Por ti eu me perdi eu me encontrei
por ti
que eras ausente e tão presente
por ti cheguei ao longe aqui tão perto.
E achei achando-te o País de Abril.
por ti cheguei ao longe aqui tão perto.
E achei achando-te o País de Abril.
Manuel Alegre
SONETO AO SENHOR CORREIO
Senhor Correio, Senhor Dom Correio,
por favor, por favor, Vossa Excelência
não abra as minhas cartas porque é feio
e tudo o que for feio falta à decência.
Eu leio as suas cartas? Não, não leio.
Se suas cartas lesse era demência.
Senhor Correio, veja se há um meio
de ter um pouco menos de inclemência.
Porque enfim o que escrevo a mim o devo,
Senhor Correio, é meu tudo o que escrevo,
e a tinta expressando as minhas falas.
É qualquer coisa mais que intimidade.
Senhor Correio, sabe que é verdade,
violar minhas cartas é matá-las.
por favor, por favor, Vossa Excelência
não abra as minhas cartas porque é feio
e tudo o que for feio falta à decência.
Eu leio as suas cartas? Não, não leio.
Se suas cartas lesse era demência.
Senhor Correio, veja se há um meio
de ter um pouco menos de inclemência.
Porque enfim o que escrevo a mim o devo,
Senhor Correio, é meu tudo o que escrevo,
e a tinta expressando as minhas falas.
É qualquer coisa mais que intimidade.
Senhor Correio, sabe que é verdade,
violar minhas cartas é matá-las.
Sidónio Muralha
OUVINDO BEETHOVEN
Venham leis e homens de balanças,
Mandamentos daquém e dalém mundo,
Venham ordens, decretos e vinganças,
Desça o juiz em nós até ao fundo.
Nos cruzamentos todos da cidade,
Brilhe, vermelha, a luz inquisidora,
Risquem no chão os dentes da vaidade
E mandem que os lavemos a vassoura.
A quantas mãos existam, peçam dedos,
Para sujar nas fichas dos arquivos,
Não respeitem mistérios nem segredos,
Que é natural nos homens serem esquivos.
Ponham livros de ponto em toda a parte,
Relógios a marcar a hora exata,
Não aceitem nem votem noutra arte
Que a prosa de registo, o verso data.
Mas quando nos julgarem bem seguros,
Cercados de bastões e fortalezas,
Hão de cair em estrondo os altos muros
E chegará o dia das surpresas.
José Saramago
Destino
I
Trago na
fonte
e estrela
do fogo
da minha
revolta
Nunca
aceitaria qualquer tirania
nem a do
dinheiro
nem a do
mais justo ditador
nem a
própria vida eu aceito...
tal como
ela é
com todas
as promessas
do amor e
da juventude
e a parda
doença
de
envelhecer
a morte em
cada dia
antecipada
II
Na mais lôbrega
alfurja
ou na cama de folhas
macias
da floresta
onde a chuva te
adormeceu
há sempre um diamante
de sol
cujos
raios te penetram de
ventura
ao
sonhares a palavra
liberdade
III
Quando a
terra poluída
tiver
sorvido
toda a
água dos lagos e das
fontes
hei de
levar o meu fantasma
até ao
porto sonoro
onde a
esperança cai a pique
sobre o
mar dos desejos sem limite
Urbano Tavares Rodrigues
RETRATO DE CATARINA
EUFÉMIA
Da medonha saudade da
medusa
que medeia entre nós e o passado dessa palavra polvo da recusa de um povo desgraçado.
Da palavra saudade a
mais bonita
a mais prenha de pranto a mais novelo da língua portuguesa fiz a fita encarnada que ponho no cabelo.
Trança de trigo roxo
Catarina morrendo alpendurada do alto de uma foice. Soror Saudade Viva assassinada pelas balas do sol na culatra da noite.
Meu amor. Minha
espiga. Meu herói
Meu homem. Meu rapaz. Minha mulher de corpo inteiro como ninguém foi de pedra e alma como ninguém quer. |
José Carlos Ary dos Santos
AR LIVRE
Ar livre, que não respiro!
Ou são pela asfixia?
Miséria de cobardia
Que não arromba a janela
Da sala onde a fantasia
Estiola e fica amarela!
Ar livre, digo-vos eu!
Ou estamos nalgum museu
De manequins de cartão?
Abaixo! E ninguém se importe!
Antes o caos que a morte...
De par em par, pois então?!
Ar livre! Correntes de ar
Por toda a casa empestada!
(Vendavais na terra inteira,
A própria dor arejada,
- E nós nesta borralheira
De estufa calafetada!)
Ar livre! Que ninguém canta
Com a corda na garganta,
Tolhido da inspiração!
Ar livre, como se tem
Fora do ventre da mãe
Desligado do cordão!
Ar livre, sem restrições!
Ou há pulmões,
Ou não há!
Fechem as outras riquezas,
Mas tenham fartas as mesas
Do ar que a vida nos dá!
Ar livre, que não respiro!
Ou são pela asfixia?
Miséria de cobardia
Que não arromba a janela
Da sala onde a fantasia
Estiola e fica amarela!
Ar livre, digo-vos eu!
Ou estamos nalgum museu
De manequins de cartão?
Abaixo! E ninguém se importe!
Antes o caos que a morte...
De par em par, pois então?!
Ar livre! Correntes de ar
Por toda a casa empestada!
(Vendavais na terra inteira,
A própria dor arejada,
- E nós nesta borralheira
De estufa calafetada!)
Ar livre! Que ninguém canta
Com a corda na garganta,
Tolhido da inspiração!
Ar livre, como se tem
Fora do ventre da mãe
Desligado do cordão!
Ar livre, sem restrições!
Ou há pulmões,
Ou não há!
Fechem as outras riquezas,
Mas tenham fartas as mesas
Do ar que a vida nos dá!
Sem comentários:
Enviar um comentário